Ao vento há o desprezo pelas gotículas de água que insistem em esguichar no rosto. Sem gosto aparente, a ansiedade jorra através dos poros um suor límpido, diferente do habitual. As mãos trêmulas que inundam a parte lateral da calça e da camisa cortam o ar de forma inusitada, nervosa, fazendo o mesmo vento ventar para os dois lados. O pescoço endurece de forma acentuada todas as agruras do cotidiano e, num ato de disfarce, a cabeça balança aos lados tentando, em vão, estalar todas as maltratadas vértebras. O olhar desesperado e esperançoso lançado para os lados não tem alvo. Tem somente a visão deturpada da paisagem horripilante e a agonia presente nas inúmeras batidas que o coração dá por minuto.
O corpo tem como única e exclusiva preocupação continuar a se mexer freneticamente, pois a sensação de quietude é dolorosa ao extremo. Os olhos também suam. A loucura não é tão silente quanto imaginava, pois há comunicação entre o cérebro e a porção corpo, mesmo que involuntária. A sensação fria e refrescante de um copo de água faz bem. O corpo ainda cambaleante se dirige ao quarto escuro e se aconchega em posição fetal sobre a cama, quase que implorando por algumas horas de sono. As juntas da carcaça maltrapilha rangem alto, num pedido suplicante de descanso e hipocondria. As reações que se seguem são perturbadoras. A mente, normalmente aliada, trabalha contra o corpo e, por mais poderosa, cria espasmos e sensações únicas. O medo da morte ou de algo ainda pior é o único pensamento possível.
E não há fuga, sonhos ou cores. O mundo se torna apenas um pensamento cinza. O medo é da loucura, que bate à porta sem pedir licença e destrói a estrutura de anos e anos de racionalidade consentida. É o poder da obsessão em essência. É a angústia patológica.
Whatever fear