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Shazam!

Surgiu no palco, em meio às luzes, o mágico com a sua cartola longa e seu smoking preto. Coisa tradicional, puro estereótipo do que conhecemos por mágico. Número após número, o sagaz homem fazia de bobo todos os que olhavam e admiravam aquilo que parecia coisa do outro mundo. A “mágica” é a prova irrefutável de que fomos feitos para acreditar na mentira. Todos sabem que nada daquilo é verdade, mas a admiração e a credibilidade de alguém em cima do palco nos dá essa dura e muita vezes errônea impressão. Assim como na vida.

Nunca gostei de mágicos. Sempre os achei uma espécie de palhaços do mal. A minha curiosidade só me permitia tentar achar qual era o erro nas mágicas. Qual era o ponto que ninguém percebia – onde estava o exato ponto que eles nos passavam pra trás. Nunca descobri muito coisa.

Nunca gostei de ser burro. Quando alguém te faz de idiota é porque encontrou oportunidade pra isso, né não? E pra mim, assistir ao mágico é uma forma de me tornar burro e me deixar ser feito de idiota. Por isso nunca fui de fumar maconha, nunca tive ídolos e nunca falei mais do que devia. Não que isso deixe as pessoas burras – por favor! -, mas pra mim nunca funcionou do jeito que deveria. Nunca consegui ter tranqüilidade para apreciar essas coisas, pois nunca me permiti aceitar as coisas como elas deveriam ser, apesar de querer. Sempre fui o menino chato que pergunta tudo e quer ouvir tudo, assim, sem mágica. Gosto da realidade das coisas, sem muita fantasia. Mesmo porque a minha cabeça é a maior fantasia e o maior conto de fadas que alguém possa imaginar.

Quando pequeno – criança mesmo! – minha mãe me deu um caixa de mágico. Tinha uma varinha de condão, uma capa, uma cartola, um baralho cheio de truques e um manual de como fazer as mágicas. Essa provavelmente tenha sido a primeira coisa que li de verdade. Uma ironia foda da vida.

Essa caixa de mágico, a qual me lembrei hoje, me trouxe uma verdade incrível e que não pensava há muito tempo. A gente só acredita nas coisas por dois motivos: inocência pura – como era o caso – e a vontade de acreditar, seja lá por qual motivo – que o caso de hoje.

Minha mágica, a qual acredito piamente, é transformar em realidade os meus sonhos e crenças. Creio estar longe – físicamente – dos meus sonhos e sonho, todos os dias, estar cada vez mais perto da minha crença.

Abracadabra? Whatever…

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Palavras que não dizem "ni".

Quanto sonho e quanta fala nessa tarde livre de fantasia. Quanta graça e quanto mistério depois da esquina de cada rua. Também precisa a lágrima achar um chão da mesma forma que a distância sempre encontra a solidão. Sufoca a gente de carinho e namora o futuro na viagem sem volta. O quão possível de brincadeira nesse jogo que passa além da liberdade se esgota e lambe dentro da natureza ardente e tenra de um lençol branco. Essa é a saudade simples e sábia de um órgão que simplesmente não pensa.

Essa espera que arde cega e sedenta no jardim do peito. Quanta fala e quanto sonho nessa noite ocupada de alegria. E se faço feliz meu mundo e encho de estrela meu céu, chego ao fim do dia sem nada pra lamentar ou pra sofrer. Nenhuma arte e nenhuma sorte me comove mais que a coxa quente dessa bela e provocante idéia. O que me chega macio e que me soa como uma música numa manhã de sol é a parte mais clara e devota de um dia comum que chega e que eu torço pra nunca mais ir embora. E a língua trabalha mesmo assim, sem fala e nem palavra. Meu quase corpo, esgotado de pudor e inocência, olha para o outro lado da margem, sem nunca avistar o mar.

Eu olho pra frente sem nunca ver o agora. Essa é a minha encruzilhada: Um caminho de 4 rotas que eu perambulo e docemente volto ao mesmo lugar, sempre pela última vez. É o encantamento e a magia da inconstância.

Whatever crossroad

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