Vamos direto para o refrão. Lá, onde a melodia fica mais festiva, onde a letra se repete e nos dá tempo pra pensar. Direto pro refrão. Sem partes. Vamos decorar tudo antes de prosseguir ou mesmo antes de conhecer o resto. Vamos cheio de ansiedade direto ao que interessa, sem pormenores, acordes introdutórios ou frases que construirão a história. Vamos direto, porque é lá que a solução chega e as coisas se resolvem. É lá que se criam os conflitos e onde se começa a aprender a resolvê-los. No refrão.
Se não tivermos começo, tampouco teremos fim. E é isso que eu quero. Só quero meios, sem nuances, sem modulações ou mudanças de tom. Começaremos nele, ficaremos neles em ato contínuo e, depois de tudo resolvido, entoaremos mais uma vez até grudar bem na cabeça. Estribilho. Quero bis só do refrão, sem as partes chatas e sem a dança pra acompanhar o ritmo. Só o êxtase, o clímax, o cume da vereda. Sem espetáculos de preciosismo, virtuosismo ou vaidade egocêntrica (sic). Vamos ser simples e objetivos, sem delongas ou meio termo.
Se não for pra ser assim, não quero. Não mesmo. Cansei de histórias bobas, tolas e com pouco significado. Cansei dos problemas que se resolverão, da insignificância de certas coisas e das rimas ao final dos atos. Aborrece-me a reclamação das primeiras linhas e a declaração de amor pusilânime das últimas. Enfastia-me os últimos acordes, normalmente decorados por finais felizes.
O refrão – esse sim! – é aquela parte onde as coisas não têm medo ou que as palavras fazem mais sentido. Onde a paz reina e as pessoas se apaixonam. É onde as pessoas se apóiam, se suportam e vivem decentemente. Onde não há maldade, enfermidade ou morte. É o lugar mais perto que as pessoas chegam de acreditar na felicidade. É isso que quero da vida. Um exato e precioso refrão.
Whatever chorus.