Pula pulga, pula. Salta e batevoltaquica essa coceira da pata esquerda. Entre nos ralos pêlos da perna e sofregamente me sugue o sangue. Se lhe mato a fome a troco de algumas apupadas no local, você está perdoada. Desculpe tentar matá-la, mas o gesto por vezes abrupto é irracional. Não lhe mataria caso pedisse permissão, pois não é nada intencional.
Pulga, foge da minha mão.
Caso fosse um mero espectador, torceria por você contra mim. Torço sempre pelos subjugados e parasitas. Enfim, não meço esforços para a sua total e irrestrita satisfação. Se lhe fosse semelhante faria o mesmo, talvez numa perna mais bonitinha, mas, gosto, cada um tem um.
Não lhe julgo a atitude, lhe julgo a safadeza de não ficar pra ver. Seu prazer de pulga é enveredado pela sua forma prolixa de morder e não olhar o que acontece. Sinceramente, reveja seus conceitos. Nos meus momentos parasitas, sempre fiquei pra ver o que acontecia, numa mistura de medo e alegria. E se ainda fosse tão pouco visível como lhe é característica principal, seria ainda mais cara de pau. Morderia os lugares mais cabais, mais óbvios e deleitosos de sangue. Seria prazer do começo ao fim.
Se pulga eu fosse, causaria as maiores e mais prazerosas coceiras e saía de cada corpo felizão e de boca cheia. Portanto, aproveite essa brecha que lhe dou, mas não abuse em sua ceia. Uma mordida por dia e mantemos assim a diplomacia. Assim, você se sacia e eu mantenho minha sanidade conversando com você todos os dias. Ah, e me desculpe quando não volto pra casa, mas também não posso ser a sua única fonte de ideologia.
Vamos manter uma relação sadia, tá? Boa noite Pulga, boa poligamia.
Or not. So, whatever.