Os olhos também envelhecem

Não vou contar aqui que viajei durante um mês por 8 países. Que falei e mal entendi 5 línguas diferentes e que conheci gente do mundo inteiro. Também não vou contar os apuros que passei e as coisas que, indiferentemente do país que estou, sou vítima ou vilão. Talvez depois.

Vou contar o fato que me fez sentir o que sou, literalmente.

Cheguei ao Brasil na segunda-feira, morrendo de saudade e de vontade de voltar. Fui às favas com meus sonhos europeus e interrompi, graças a Deus, esse sonho insípido e inodoro que tinha de habitar as terras do velho continente por puro desgosto desse nosso Brasil “3º. mundo”. Isso aqui é muito melhor, na minha humilde e singela opinião.

Voltei com saudade das pessoas.

Fui visitar minha avó, 96 anos, que mora sozinha e que nasceu na Espanha, um dos países contemplados e abençoados pela minha visita (sic). História pitoresca a da minha avó. Saiu de navio do porto de Cádiz aos 2 anos (1912) rumo ao Brasil. Ela, 4 irmãos e a mãe. Só ela e minha bisavó chegaram. O “resto” foi jogado ao mar durante a travessia. Só soube disso há um ano atrás e fiz questão de ir até lá e passar uma tarde inteira olhando para o porto que um dia foi o ponto de partida da minha história.

Voltei contente e feliz em poder dizer à dona Matilde que visitei a sua terra, nem que tenha sido por míseras 24 horas as quais passei, no mínimo, 16 bêbado. E só disse isso e mostrei uma foto da cidade, que, como ela mesma disse, não tinha lembrança alguma.

Com seu jeito tenro que só as vós têm, com seu modo amável que só as mães têm e com sua maneira que só as mulheres têm, ela me disse do alto de seus 1,50m:

– É filho, eu estou cansada.

E de dentro dos seus olhos não tão reluzentes quanto outrora, chorou o choro da vida, sabe-se lá pensando o quê.

E pela primeira, e talvez última, consolei minha avó cheio de lágrimas nos olhos, sabendo que os momentos passam, que a vida passa e que, apesar da beleza das coisas, a maior riqueza ainda está bem no fundo desses especiais e inesquecíveis olhos verdes.

I do care.

6 Comentários

Arquivado em Autobiografia, Introspecção

6 Respostas para “Os olhos também envelhecem

  1. Anonymous

    Meus olhos também choraram ao ler…BeijoPS: r..ilda

  2. Anonymous

    Há tempos não passava por aqui, e percebi a diferença na escrita… Li ,e com os olhos cheios de lágrimas consegui alcançar tal momento, um abraço verdadeiro, cheios de sentimentos que se misturam e se traduzem em uma só palavra: SAUDADEParabéns pelo texto, Pataca.Lindo mesmo!“os momentos passam, que a vida passa e que, apesar da beleza das coisas, a maior riqueza ainda está bem no fundo desses especiais e inesquecíveis olhos verdes.”E que você não apareça mais vezes…porque na verdade, você faz uma falta imensa! SquarePS:Welcome to reality, my dear!

  3. Ariett

    Lindo, lindo, lindo post!

  4. Lara

    Sublime! Ps.:Viajar é bom, mas voltar pra casa pode ser melhor ainda…

  5. Joo

    Yeah, tem razão, Europa é bom pra gente ir ver… e nos meus últimos dias de viagem, eu sempre fico louca pra voltar… o que será que tem aqui de tão bom, que a gente fala-fala-fala mal, mas não larga?Adorei as fotos.E um dia eu volto a escrever. 🙂

  6. Anana

    sem palavras…

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