No alvorecer da manhã, ia eu pelo calçadão da praia de Santos, olhando sob os meus pés aquelas ondas brancas e pretas intercaladas que formam um mosaico adorado por todos e bastante enlouquecedor para quem algum tipo de transtorno obsessivo compulsivo. Aos poucos, e ainda sem me dar conta, pois também ouvia música, minhas pernas começaram a só pisar nas ondas brancas, como todo bom santista fez pelo menos uma vez na vida. Após alguns minutos fazendo isso, me dei conta que algumas pessoas olhavam para mim, pois não é uma tarefa das mais fáceis percorrer longos trajetos na mesma cor, visto que cada onda deve ter mais ou menos um metro e meio.
Ora é preciso brecar bruscamente e ora é preciso esticar as pernas ou até saltar. Tentei estabelecer um padrão de movimento que não despertasse a curiosidade e nem os olhares alheios, mas é impossível, garanto. Devo ter parecido um tanto ridículo, o que, absolutamente, não é novidade nenhuma pra mim e pior, talvez nem para os outros. Depois de quase um quilômetro só pisando nas pedras brancas atravessei a rua antes que enlouquecesse de vez. O asfalto, todo cinza, é mais seguro para pessoas como eu.
O mais assustador foi que, ao final, fiquei com a nítida impressão de que aquele gesto tinha acabado de salvar o mundo. A pergunta que fica é: isso é normal?
Whatever walk